quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um sorriso pode acabar com tudo

A primeira vez que Jim se apaixonou por uma garota, como ela era linda, pés pequenos, mãos delicadas, longos cabelos pretos e um olhar misterioso. Se conheceram em um bar qualquer. Foi a primeira garota que aguentou beber com ele, vomitaram lado a lado. Que garota. Realmente o tipo de mulher que você pode ter certeza que estará ao seu lado para o que der e vier.

O namoro demorou um bom tempo, dois anos, acabou por uma briga envolvendo um ultimo gole de uma garrafa de vodka, era a primeira bebida que custara mais que dez reais, tinha um valor irreparável.

A segunda mulher com quem Jim se perdeu de amores, foi a experiente Rose, uma coroa enxuta com idade perto dos quarenta. Pernas grossas, uma tatuagem no ombro esquerdo, calçava botas enormes que lhe cabiam perfeitamente em seus pequenos pés, e as mãos!...levantavam o cálice com uma delicadeza jamais vista por Jim. Ela estava lá, em uma esquina qualquer, era a primeira mulher que Jim pagou mais do que trinta reais para comer...valeu cada centavo!

Jim sabia que Rose era uma prostituta, isso não o incomodava, não partilhava dos valores morais que a sociedade tentava lhe impor. Mas quando a namorada começou a atender em sua casa, Jim não aguentou, deu uma ultima e deliciosa trepada e depois de colocar o dinheiro sobre a cabeceira nunca mais voltou, disse que ia comprar cigarros...uma observação, ele não fumava.

A terceira experiência amorosa de Jim foi quando ele já estava perto dos quarenta. Uma adorável estudante loira, tinha olhos verdes, cabelos que chegavam na cintura, mãos lindas que de tão delicadas Jim teve medo de machuca-las ao tirar-lhe para dançar, seus pés também eram pequenos e frágeis, mas ao contrario dos pés e das mãos seu temperamento era forte. Saíram do bar dançante, ela acendeu um cigarro. Conversaram sobre várias coisas, música, crenças, filosofia. Encantado com a boca vermelha que dava um sorriso Jim perde a fala. Não sabia como tanta coisa podia caber naquele sorriso, era angelical, mas não totalmente inocente, era provocativo e de uma sinceridade absurda, acho que não há como descrever tal sorriso. Jim viu o sorriso se desfazendo e uma pergunta foi feita- gostaria de saber o que você está pensando?- Jim tomou-a por um beijo, talvez o melhor que já dera.

Depois do primeiro encontro se falavam todos os dias. Ela era tão louca quanto as outras garotas que conhecera, mas era sofisticada, refinada, inteligente, cautelosa e o que mais entretinha Jim era que cada dia parecia que saia com uma mulher diferente.

Um certo dia Jim esperou, no lugar de sempre, no mesmo horário e ela não apareceu, e no dia seguinte, e no seguinte e nada. Jim não lembrava de ter falado algo que a incomodou, mas lembrava-se apenas que em uma das conversas sua amada estudante loira comentava que sentia um certo medo dele...agora quem tinha medo era Jim...medo de nunca mais ver aquele sorriso...medo de nunca mais ver aquela que cada dia era uma...Jim nunca mais a viu.

Jim morreu na rua Augusta, onde bêbado disparou uma arma contra a própria cabeça. Suas ultimas palavras foram “AQUELE SORRISO”.


(Felipe I Bollella)

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